sábado, 11 de dezembro de 2010

Sociedades Filarmônicas - Quem Somos?

Por Fred Dantas
Em atenção à mestra  Sônia Oliver e demais organizadores das reuniões que pretendem lançar os pilares de uma federação de sociedades filarmônicas, entendo que a minha principal contribuição, além da construção do repertório, é a reflexão sobre a nossa identidade,  o que nos caracteriza em relação a grupos que envolvem o uso de instrumentos de sopro e percussão.
A princípio entendo que, ao lado das ações envolvendo legalização e criação de canais permanentes de comunicação e apoio com o governo, uma das nossas primeiras providências  será a identificação do que somos.
1 – a sociedade filarmônica possui autonomia cível e territorial. Isso significa que possui estatutos, inscrição no CNPJ;  e o espaço onde realiza suas atividades é de soberania própria. Sua diretoria é livremente eleita e por norma a permanência é de 4 anos de mandato, podendo ser reeleita. A sua sede pode não ser propriedade própria, mas a gestão do espaço deve ser responsabilidade da sociedade filarmônica.
2 – a sociedade filarmônica participa musicalmente dos principais eventos sociais na comunidade onde se origina. Para isso mantém um corpo musical formado por flautim, flautas, clarinetas, saxofones, trompas, trompetes, trombones, bombardino, tubas e percussão, regido pelo mestre de música e seus auxiliares, chamados contra-mestres. Algumas sociedades musicais associam a música a atividades ligadas à literatura, poesia e outras artes. A banda de música se locomove, acompanhando cortejos, desfiles e procissões e se apresenta em situação de concerto, com músicos sentados em um palco ou coreto.
3 – as bandas filarmônicas em sua praxe musical  têm como principal característica a produção própria e imediata de repertório. Composições novas e arranjos são relacionados a datas, fatos e pessoas e são produzidas por componentes da banda de acordo com as formas musicais e suas partes e ainda de acordo com os quatro pilares da escrita polifônica: canto, contracanto centro e marcação.
4 – A sociedade filarmônica tem se caracterizado por uma ação social efetiva e discreta, que tem raízes nos antigo terço colonial, quando a banda de música era um veículo de inclusão social para os mais humildes e segregados, até  os nossos dias, quando as bandas são um dos principais construtores de cidadania, reunindo crianças e jovens em centenas de cidades do Brasil.

A reflexão advinda dos quatro pontos listados passa por elogiar a iniciativa de congregar essas instituições na Bahia em uma associação representativa. A maioria dos estados do Brasil possui federação semelhante, que em geral luta pelos direitos e integridade das sociedades musicais. Na tal Carta das Filarmônicas em Porto Seguro, que escrevi às autoridades reinvindicando atenção ao estado de coisas das bandas de música na Bahia, esclareci:
Por que enfim essas bandas devem ser apoiadas pelo estado? Porque há anos iniciam, integram e profissionalizam milhares de crianças e jovens sem lhes cobrar um tostão, ao contrário, acessando um instrumento, fardamento e lanche diário. Porque estão intimamente ligadas à vida social da suas cidades, presentes em todos os momentos, da solenidade, de cunho religioso ou de pura festa. Porque em seus arquivos brota um notável patrimônio de músicas originais, em maioria compostas nas próprias cidades, por competentes compositores dos quais todos têm o direito de saber o nome, obra e tudo que fizeram pela música. (Dantas, abril 2010)
A participação da filarmônica em sua comunidade passa hoje por um posicionamento firme no sentido de cobrar às autoridades a devolução do espaço público: seja ele o espaço físico de uma praça, em geral ocupada  por atividades privadas como bares e vendedores avulsos, como também o espaço sonoro, muitas vezes saturado por apenas um ou dois automóveis com potentes aparelhos de som. Sem esses dois espaços assegurados torna-se impossível que a banda de música volte a ocupar as praças, tocando coisas de amor.
Uma das alternativas de crescimento para as bandas de música seria promover atividades conjuntas com círculos poéticos e literários, sempre de alguma forma existentes nas cidades. A banda deve se locomover pelas ruas, mas mantendo a sua identidade em relação às bandas de marcha de inspiração norte-americana, que usam o mesmo instrumental, mas se diferenciam no repertório (em geral músicas olímpicas) e no fardamento (neles mais vistoso).
Do mesmo modo as bandas filarmônicas devem cada vez mais buscar situações de concerto, onde podem tocar para uma platéia atenta e utilizar instrumentos de percussão fixos;  isso  nos aproxima momentaneamente da  banda sinfônica, mas atentos a três coisas que delas nos diferenciam: somos uma sociedade, enquanto a banda sinfônica geralmente pertence a uma instituição; em geral produzimos ou replicamos repertório próprio, nos distanciando de um catálogo internacional dirigido; e finalmente estamos sempre aptos a complementar nossa apresentação de palco com uma volta festiva pelos arredores, conduzindo em situação de festa o mesmo público que nos escutava há pouco.
A produção de repertório tem sido possível em diversas bandas de música, seja em situações como a minha própria, quando recentemente compilei um conjunto de peças feitas especialmente para banda em trinta anos de carreira, seja em casos notáveis como a da menina de 15 anos da cidade de Itiúba que compõe músicas que são tocadas com sucesso pela sua banda.  A meu ver, teria que se aproveitar o que foi conquistado no Curso de Capacitação para Mestres e Músicos Líderes de Filarmônicas (Oficina de Frevos e Dobrados-Fundo de Cultura da Bahia 2008-9) e se ampliar a ação a partir daí, revisando, ampliando  e reeditando seu material didático, que disponibilizo gratuitamente.
Finalmente, a ação social da filarmônica deve se desenvolver nas bases que nos deram êxito na alfabetização musical há muitos e muitos anos: a banda de música não vai buscar, não vai convencer a nenhuma criança ou jovem a apreender nossa profissão, mas se mantém como uma porta sempre aberta, que nunca recusa a priori um aluno sob pretexto algum.


(postado por: Maestro Thiago Barbosa, Sociedade Filarmônica Lyra Itamarajuense)

Um comentário:

  1. É incontestavel a mudança que se tem ao se integrar numa banda filarmônica,agente aprende a respeitar,dar e receber carinho,e principalmente a amar,é uma familia, e como muitas brigamos,choramos,sorrimos e nos perdoamos,porque temos um sentimento unico, desejos, que sem duvida é ver nossa banda\familia
    crescer juntos...
    Esse momento que vivemos é a prova de que minha familia que se dar bem com outra familia e assim uma ajudar a outra...
    Briigada sociedades filarmônicas pelo tão singelo amor...

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